CRISPR | Nova ferramenta genética promete acelerar o melhoramento de trigo e triticaleBlog
O cientista principal, Juan Debarnardi, mostra embriões de grão que a sua equipa utiliza para a investigação no Centro de Transformação de Plantas da Fundação Parsons, no Departamento de Ciências Vegetais da UC Davis. (Créditos da imagem: Trina Kleist/UC Davis)

Investigadores da Universidade da Califórnia, em Davis (UC Davis), desenvolveram uma nova ferramenta genética que promete transformar o melhoramento do trigo e do triticale, dois cereais essenciais à segurança alimentar global. Esta inovação permite criar plantas de menor estatura mais rapidamente e com melhor adaptação a diferentes ambientes, abrindo caminho a uma nova “Revolução Verde”.

Ao contrário dos métodos anteriores, esta abordagem consegue distinguir entre características de plantas “pequenas” e “baixas” nas gramíneas, como o trigo. Através do uso da ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9, os cientistas introduziram mutações específicas que bloqueiam a ação de um microRNA responsável por cortar os genes AP2L2. Como resultado, as novas plantas desenvolvem-se com menor altura, sem comprometer outras qualidades importantes como o rendimento ou a resistência a doenças.

A técnica também permite semear os grãos a maior profundidade, o que facilita o acesso à humidade em zonas áridas – uma vantagem crucial face às alterações climáticas. Adicionalmente, estas plantas mais curtas demonstraram ser mais resistentes ao encamamento, um problema que dificulta a colheita mecânica e compromete os rendimentos.

Em testes de campo realizados ao longo de dois anos, as plantas modificadas foram entre 12 a 18 cm mais baixas e registaram um aumento de 9% na produtividade dos grãos, com menor risco de queda durante tempestades. A nova ferramenta usa microRNA, pequenas moléculas que regulam a expressão genética e cujos descobridores foram galardoados com o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2024.

Juan Debernardi, investigador principal e gestor do Centro de Transformação de Plantas da Fundação Parsons na UC Davis, sublinha a importância do avanço: “A flexibilidade para criar plantas com diferentes alturas num único passo, sem afetar outras características, é extremamente atrativa. Evita anos de cruzamentos e retrocruzamentos complexos”.

O estudo, que contou com a colaboração do reconhecido geneticista Jorge Dubcovsky, foi destacado na capa da edição de fevereiro da revista científica Plant Biotechnology Journal.

Leia o estudo aqui.

Um dos objetivos da investigação foi desenvolver pastagens alimentares de estatura reduzida à superfície, mas com rebentos subterrâneos de tamanho normal, facilitando a sua adaptação a diferentes condições de cultivo.
(Créditos da imagem: Juan Debernardi/UC Davis)