O investigador e Professor da Universidade de Coimbra, Jorge Canhoto, é o novo presidente da Direção do Centro de Informação de Biotecnologia. Sensibilizar a opinião pública e os decisores políticos para a necessidade de uma legislação europeia mais favorável à utilização das novas tecnologias de melhoramento genético é a prioridade. Numa altura em que a União Europeia quer reduzir substancialmente a utilização de pesticidas, estas ferramentas são uma alternativa mais sustentável, mais eficiente e mais barata.
Após ratificação na última Assembleia Geral do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia, o investigador Jorge Canhoto assume as funções de Presidente da Direcção do CiB até Março de 2022, altura em que serão realizadas novas eleições dos Órgãos Sociais desta associação para o biénio 2022/2024.
Jorge Canhoto pretende dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo CiB nos últimos anos, de divulgação e de promoção da biotecnologia em áreas diversas, especialmente na agricultura, onde a utilização da engenharia genética para o melhoramento de culturas tem sido extremamente condicionada pela legislação da União Europeia, ainda que não tenha surgido, em 25 anos de aplicação da tecnologia, um único caso cientificamente sustentado de problemas na saúde pública.
Também não há indicadores de que as novas técnicas genómicas (NTG) vão ter um tratamento diferente, considerando que o Tribunal de Justiça Europeu as submeteu à mesma Diretiva que regula os OGM, apesar de serem tecnologias muito distintas no modo como possibilitam a manipulação do genoma.
“Existem entidades reguladoras competentes e temos que confiar nelas. A legislação é de tal maneira apertada que ao fim de tantos anos apenas temos, na União Europeia, uma única variedade modificada (milho Bt) cultivada em dois países (Portugal e Espanha) e numa área muito residual.”
Para Jorge Canhoto, “a política da UE nesta matéria é um contracenso”: proibe a produção de culturas geneticamente modificadas nos seus Estados Membros, mas está a comprá-las a outros países para fazer face às necessidades de alimentação animal; pretende uma agricultura mais ‘verde’, com menos adubos e pesticidas, mas restringe a utilização das NTG, que é uma das alternativas mais sustentáveis – ao permitir o desenvolvimento de culturas com determinadas características, por exemplo resistentes a pragas e doenças ou tolerantes à seca, as NGT permitem a redução substancial do uso de agroquímicos de síntese.
E se houvesse uma espécie de Covid na agricultura?
O novo presidente do Centro de Informação de Biotecnologia considera que nunca como hoje foi tão urgente adotar as novas tecnologias de melhoramento genético de plantas para enfrentar os grandes desafios atuais: o aumento da população mundial, que precisa de ser alimentada, e as alterações climáticas.
“As pessoas não dão tanta importância à agricultura como à saúde, porque felizmente vivemos num país onde não faltam alimentos, mas há muitos locais no mundo fora em que a comida não é tão abundante. E nós não estamos livres de um dia sermos afetados por uma desgraça que comprometa a produção agrícola. Se eventualmente surgisse uma espécie de Covid nas plantas que comemos, o que é que nós fazíamos? É crucial termos ferramentas que nos permitam lidar com essas situações.”
Razões que levam Jorge Canhoto a continuar o trabalho do CiB na divulgação e promoção das NGT, como a edição do genoma, junto da opinião pública (inclusivé com ações de informação em escolas), dos media (workshops para jornalistas), dos governantes, dos partidos políticos nacionais com assento parlamentar e dos eurodeputados portugueses. Porque “enquanto o uso das novas tecnologias genómicas estiverem confinadas aos laboratórios, estamos a perder a oportunidade de produzir mais alimentos de uma forma mais sustentável”, conclui.
Licenciado em Biologia, doutorado em Biologia (Fisiologia) e com agregação em Botânica (Biotecnologia), Jorge Canhoto é Professor no Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e é responsável pelo Laboratório de Biotecnologia Vegetal do Centro de Ecologia Funcional. Tendo como áreas de investigação a Biotecnologia Vegetal, melhoramento de plantas, desenvolvimento de Plantas e recursos florestais, o novo presidente da Direção do CiB tem uma larga experiência na propagação in vitro e em técnicas de microscopia e biologia molecular, publicou vários artigos sobre micropropagação e fez apresentações em inúmeros congressos nacionais e internacionais.
O anterior Presidente da Direção, Pedro Fevereiro, liderou o CiB nos últimos 17 anos, deixando o cargo para se dedicar em exclusivo ao Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect, de que é diretor executivo, que se encontra em instalação e que conta com o trabalho de 34 investigadores na área da proteção de plantas e de desenvolvimento de biopesticidas. “Decidi que seria mais razoável pedir aos associados do CiB que me substituíssem na Presidência da Direção do CIB. O Professor Jorge Canhoto tem muitos anos de experiência como investigador e como Professor na área da Biotecnologia Vegetal e tem também experiência institucional, já que nos últimos anos foi diretor do Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. Deposito nele toda a confiança para dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser realizado pelo CiB.”
Constituído em 2002, o CiB é uma associação sem fins lucrativos que tem como função promover e divulgar a Biotecnologia em Portugal e nos países de língua oficial Portuguesa, contribuindo para o esclarecimento de diferentes públicos-alvo em relação às aplicações biotecnológicas no quotidiano. Os temas abordados incluem as novas tecnologias aplicadas à agricultura, à indústria, ao meio ambiente, à alimentação e à medicina.
Ao longo dos anos, o CiB tem participado em debates públicos, em audiências com decisores políticos, esteve envolvido no desenvolvimento de projetos de legislação, regulamentação e normalização ligadas à Biotecnologia; na organização de eventos para formação e esclarecimento de diferentes públicos (cientistas, jornalistas, empresários, agricultores, estudantes e não estudantes); e elaboração de conteúdos para promover o conhecimento da biotecnologia junto desses públicos.
O CiB conta com o apoio ativo de diferentes entidades: empresas, indústria, instituições públicas e privadas sem fins lucrativos e ainda associados em nome individual.