Um novo relatório que avalia a sustentabilidade do milho Bt em Espanha conclui que, por ano, esta variedade de milho geneticamente modificado fixou adicionalmente mais de 57 mil toneladas de CO2, o que compensou as emissões anuais de mais de 33.800 veículos em circulação. Mas há mais benefícios.
O futuro do setor agroalimentar na União Europeia será marcado pelas estratégias que compõem o Pacto Ecológico Europeu, que pretende reduzir o impacto ambiental dos sistemas alimentares e alcançar uma cadeia de abstecimento mais sustentável. Objetivos para os quais a biotecnologia agrícola pode desempenhar um papel essencial.
Na União Europeia, os únicos países que produzem milho Bt (a única variedade geneticamente modificada aprovada para cultivo na UE) são Portugal e Espanha. Em 2021, a área total cultivada com milho GM em Portugal era de 4.227,56 hectares e em Espanha de 100.000 hectares.
Para analisar os benefícios associados a esta cultura, os economistas Francisco J. Areal da Universidade de Newcastle (Reino Unido) e Laura Risk da Universidade Pablo Olavide prepararam um relatório que avalia a sustentabilidade do milho Bt em Espanha de 1998 a 2021 no plano económico, social e ambiental. O relatório conclui que, por ano, o milho Bt fixa adicionalmente mais de 57 mil toneladas de CO2 em Espanha. Esta fixação líquida de carbono compensou as emissões anuais de mais de 33.800 veículos em circulação.
USO DA TERRA
Entre 1998 e 2021 , o cultivo de milho Bt permitiu aos agricultores espanhóis obter uma produção adicional de 1,76 milhão de toneladas, utilizando menos recursos e ajudando a reduzir a pressão sobre recursos naturais escassos, como a água. Para atingir esses níveis de produção com o milho convencional, seria necessário cultivar uma área agrícola adicional de 166.934 hectares. Somente em 2021, seriam necessários um total de 8.788 hectares adicionais para que o cultivo de milho mantivesse os níveis alcançados com o milho Bt nas áreas afetadas pela broca do milho.
FIXAÇÃO DE CARBONO
Devido à atividade fotossintética das plantas, a fixação de carbono nos cereais é muito maior do que as emissões associadas à produção agrícola. Desta forma, a superfície cultivada com cereais pode ser considerada como um armazenamento natural de CO2. No caso do milho irrigado, a fixação líquida de carbono é estimada em 777 kg CO2 equivalentes/ton de milho produzido.
Se levarmos em conta essa fixação líquida de CO2 e a produtividade adicional dessa cultura biotecnológica, o cultivo de milho Bt em Espanha entre 1998 e 2021 permitiu uma fixação adicional de carbono equivalente a 1,37 milhão de toneladas de CO2. Esse sequestro adicional de carbono significa que o uso do milho Bt contribuiu para compensar as emissões de mais de 9.103 milhões de km percorridos por veículos naquele período.
Toda a atividade agropecuária gera emissões de gases de efeito estufa, no entanto, tem uma notável capacidade de reduzir os efeitos que contribuem para as alterações climáticas por via da fixação de carbono. O cultivo de milho Bt, além de ter um papel essencial na fixação de CO2, também reduz o uso de combustíveis fósseis e as emissões associadas ao reduzir o volume de operações de campo.
PEGADA DE ÁGUA
O cultivo de milho Bt em Espanha economizou 93 milhões de m3 de água entre 1998 e 2021. É conveniente diferenciar as diferentes pegadas hídricas para entender melhor o benefício derivado. A pegada hídrica azul está relacionada ao volume de água de irrigação consumido nas toneladas de milho produzidas. A pegada hídrica verde refere-se à água da chuva consumida pelo milho. E a pegada hídrica cinza é o volume de água necessário para assimilar a carga de fertilizantes nitrogenados causada pela cultura.
Dos 93 milhões de m3 de água economizados entre 1998 e 2021, um total de 65 milhões de m3 de água foi para irrigação e 28 m3 de água para diluição de fertilizantes nitrogenados da agricultura. Quantidades que teriam que ser utilizadas para atingir a mesma produção com o milho convencional. Apenas a água de irrigação economizada equivale a abastecer toda a cidade de Saragoça com água por um ano.
COMÉRCIO EXTERIOR
Com base nas diferenças de rendimento, foi analisada a produção de milho que teria sido alcançada se em vez de milho Bt tivesse sido plantado milho convencional entre 1998 e 2021. A diferença entre a produção de milho Bt e a produção estimada de milho por região e ano permite estimar as perdas de produção que teriam ocorrido se o milho Bt não estivesse disponível para os agricultores. As referidas perdas agregadas totalizaram 1.763.430 toneladas no período analisado.
Estas perdas de produção teriam significado um aumento das importações de milho para cobrir a procura interna espanhola. Considerando o preço médio do milho importado por Espanha no período de 1998 a 2021, o cultivo de milho Bt contribuiu para reduzir as importações de milho em aproximadamente 314 milhões de euros.
BENEFÍCIOS PARA AS COMUNIDADES RURAIS
O cultivo do milho Bt não só ofereceu soluções sustentáveis para os problemas agrícolas, como também melhorou, de forma sustentável, o desempenho agronómico, económico e ambiental de propriedades agrícolas com problemas de pragas. O cultivo de milho Bt permitiu entre 1998 e 2018 um aumento da renda dos agricultores espanhóis e portugueses de 285,4 milhões de euros. Por cada euro extra gasto na compra desta semente em relação ao custo da semente convencional, os agricultores obtiveram 4,95 euros de rendimento adicional. O aumento da produção e a redução dos custos aumentaram os rendimentos dos agricultores numa média de 173 euros por hectare, dinamizando as economias rurais dos dois países.
Leia o relatório completo aqui.