Numa altura em que o Reino Unido se prepara para ‘suavizar’ as regras da edição genética em plantas, um grupo de cientistas, veterinários e produtores de gado apelaram ao governo de Boris Johnson para ‘libertar’ a ciência de restrições desnecessárias, de modo a permitir a criação de animais resistentes a doenças, seca e ondas de calor.
Depois de uma consulta pública sobre a utilização da edição de genes, espera-se que o governo britânico proponha num futuro próximo uma flexibilização das retrições à utilização de tecnologias de edição de genes. Mas temendo que esta ‘abertura’ do governo de Boris Johnson se aplique apenas às plantas, deixando de fora os animais, um grupo de cientistas, veterinários e produtores de gado escreveu ao Ministro do Ambiente, George Eustice, apelando à flexibilização das regras também na produção de gado. O grupo argumenta que “a biotecnologia é comparável aos métodos tradicionais de criação e é vital para criar porcos, vacas e aves resistentes a doenças, seca e ondas de calor”.
“É tão importante podermos usar o enorme poder da edição de genes para criar animais resistentes a doenças, secas e ondas de calor quanto para criar novas variedades de plantas”, disse o professor Bruce Whitelaw, do Instituto Roslin da Universidade de Edimburgo. “Isso é particularmente importante à medida que o aquecimento global se intensifica e nos esforçamos para garantir que os animais estão protegidos contra futuros surtos de doenças zoonóticas”.
O valor da edição de genes neste último campo é demonstrado pelo trabalho realizado no Instituto Roslin e no Imperial College London, onde os cientistas identificaram um gene que pode conferir resistência à gripe. “Agora podemos pensar em usar a edição genética para criar animais resistentes à gripe aviária e suína e, assim, conter surtos, ao mesmo tempo que reduzimos o risco de desencadear futuras pandemias em humanos”, garantiu Bruce Whitelaw, um dos signatários da carta.
Outros desenvolvimentos recentes na edição de genes no gado incluem a criação de porcos que podem lutar contra uma doença conhecida como vírus da síndrome reprodutiva e respiratória dos suínos (PRRSV), que está a devastar varas de porcos em todo o mundo. “Usar a edição de genes tem o enorme poder de economizar milhões de libras e de parar o sofrimento animal”, disse Bruce Whitelaw.
“A investigação em edição de genes no Reino Unido foi prejudicada pelos obstáculos regulatórios desnecessários e não científicos que herdamos da União Europeia”, sublinhou Helen Sang, também do Instituto Roslin e signatária da carta. “Isso deixa-nos atrasados em relação à abordagem adotada noutras partes do mundo, como Japão, Austrália, Argentina, Brasil e Canadá.”
Espera-se que o Reino Unido se liberte dessas amarras legislativas com um anúncio em breve do Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais. No início deste ano, um relatório da Taskforce sobre Inovação, Crescimento e Reforma Legislativa aconselhou o governo a prosseguir com a reforma regulatória da edição de genes em plantas, mas foi mais cauteloso sobre a utilização da tecnologia na pecuária.“Algumas pessoas não gostam da ideia de alterar geneticamente os animais, mas temos feito isso há milhares de anos, transformamos lobos em chihuahuas e ninguém parece importar-se”, acrescentou Bruce Whitelaw.
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