Dois novos estudos científicos demonstram que variedades de arroz e milho geneticamente modificadas para se tornarem resistentes a pragas não prejudicam os insetos benéficos para as culturas agrícolas. A tecnologia GM utiliza a bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) que produz uma proteína com efeito inseticida, sendo graças a ela que os produtores conseguem controlar, de um modo muito direcionado, as pragas que destroem as culturas. Mas as aranhas, as vespas e outros insetos não são afetados.
Estes novos estudos, publicados em fevereiro de 2020, vêm demonstrar uma vez mais que o controlo muito direcionado de pragas através da tecnologia GM tem imensas vantagens para o meio ambiente. Ao utilizar uma proteína inseticida chamada Bacillus thuringiensis (Bt), expressa em tecidos vegetais, os produtores podem reduzir a aplicação as pulverizações de inseticidas de largo espetro, protegendo a biodiversidade a uma escala mais ampla.
Um estudo, liderado por investigadores na China, incidiu sobre o arroz Bt e outro, realizado por investigadores no Brasil, teve como objeto de investigação o milho Bt.
Num artigo publicado no Plant Biotechnology Journal, os investigadores que estudaram o arroz Bt afirmam que após vários anos de ensaios de campo não encontraram diferenças significativas nas populações de aranhas que vivem nos campos de arroz Bt e nas populações de aranhas que vivem nos campos de arroz não-Bt. Foram feitas comparações ao longo de todo o período em que durou o estudo e, garantem, não há diferenciações relevantes a assinalar.
Além disso, como de resto já esperavam os investigadores chineses, quando as plantações de arroz Bt e as de arroz não-Bt foram tratadas com inseticidas químicos, verificou-se uma redução nas populações de aranhas. Ou seja, embora os inseticidas permitam reduzir as perdas na produção de arroz não-Bt, também mata insetos benéficos como as aranhas, que desempenham um papel importante no controle natural de pragas. “Estes resultados sugerem que o arroz Bt não tem impactos a longo prazo na estrutura da comunidade de aranhas, enquanto os inseticidas químicos expõem impactos negativos”, escrevem os investigadores no artigo divulgado no Plant Biotechnology Journal.
Uma outra equipa de investigadores estudou o potencial impacto do milho Bt no Brasil numa minúscula vespa parasitária chamada Trichogramma pretiosum. Muito comum no Brasil, este inseto alimenta-se dos ovos das mariposas-do-outono (traça) e de outras pragas agrícolas e por esta razão é altamente valorizado pelos agricultores como agente de bio controlo.
Os cientistas brasileiros afirmam que se as proteínas inseticidas expressas nas culturas de milho Bt – que se mostraram extremamente eficazes no combate às pragas de lepidópteros (onde se incluem as borboletas e as mariposas) – também prejudicassem insetos benéficos como a vespa Trichogramma pretiosum, seria um problema sério e motivo de grande preocupação para os agricultores e ambientalistas. Mas esse parece não ser o caso. Conforme relatado pelos autores do artigo publicado na revista Biocontrol Science and Technology, “todos os híbridos Bt [de milho] avaliados foram inofensivos ao Trichogramma pretiosum”.
Os investigadores reforçam: “Todas as proteínas Bt avaliadas neste estudo visam especificamente os lepidópteros e não têm efeitos mortíferos sobre o T. pretiosum, nem mesmo quando foram testadas exposições extremas produzidas em condições de laboratório.”
As conclusões destes dois estudos aumentam o consenso de que as culturas Bt não prejudicam organismos não-alvo, o que significa que podem ser usadas como parte de uma ampla variedade de técnicas de manutenção integrada de pragas. Isso é importante também para tentar impedir uma evolução da resistência às proteínas Bt entre as espécies de pragas.
Leia o artigo científico dos investigadores chineses sobre o arroz Bt aqui e o artigo dos investigadores brasileiros sobre o milho Bt aqui. Este texto foi originalmente publicado na Cornell Alliance For Science.
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