Investigadores em Espanha, Holanda e EUA estão a usar a edição de genomas para retirar do trigo as proteínas responsáveis pela intolerância ao glúten. Os resultados dos testes já realizados são bastante animadores.
Aproximadamente uma pessoa em cada cem tem doença celíaca. Para os celíacos, a ingestão de glúten significa elevadas probabilidades de sofrer de diarreia, vómitos, desnutrição e até danos cerebrais e cancro intestinal. Se acrescentarmos a estas as pessoas que são sensíveis ao glúten, temos 7% da população ocidental a evitar o consumo de alimentos com glúten.
Mas o que é exatamente esta substância que afeta a vida de tantas pessoas, mas deixa as restantes ilesas. Glúten é o termo geral para as proteínas encontradas em vários cereais como trigo, cevada e centeio, pelo que está presente nos pães e bolos. Mas nem todo o glúten é formado de igual forma. São as proteínas chamadas gliadinas que desencadeiam a resposta auto-imune que danifica o revestimento intestinal, causando graves consequências nas pessoas intolerantes ao glúten.
Se houvesse possibilidade de remover essas proteínas, deixando intacta grande parte da estrutura e sabor característicos do pão, poderíamos produzir pão, bolos e outros produtos alimentares inofensivos para quem sofre da doença celíaca. Pães feitos de arroz e de farinha de batata não entram nesta equação, uma vez que o arroz e a batata não têm glúten.
Investigadores do Instituto de Agricultura Sustentável (IAS-CSIC), com sede em Córdoba, Espanha, tentaram reduzir de duas maneiras a gliadina no trigo. Primeiro, usando a técnica RNAi e, depois, aplicaram a técnica de edição de genomas CRISPR/Cas9. Ambas apresentaram resultados que mostram uma diminuição na intensidade da resposta imune: 95% no caso do RNAi e 85% no caso do CRISPR/Cas9.
Com a primeira técnica (RNA de interferência), os investigadores introduziram DNA estranho na planta, tornando-a geneticamente modificada. Com o CRISPR, sendo uma técnica de alta precisão e eficiência, os investigadores puderem entrar no genoma e interromper a ação especificamente dos genes causadores de doença. Desta forma, com o CRISPR, as plantas permanecem não transgénicas, o que poderá atenuar o receio que algumas pessoas ainda alimentam sobre as plantas geneticamente modificadas.
Os resultados dos testes de paladar também foram positivos. O pão com baixo teor de gliadina produzido quer pela técnica de RNAi, quer pela edição de genomas (CRISPR) foi considerado inócuo e saboroso, tendo-se verificado ainda uma melhoria da flora microbiana das pessoas celíacas (em relação ao período em que faziam uma dieta sem glúten).
As notícias são bastante promissoras para os intolerantes ao glúten.
Mais informação nesta ficha técnica da EuropaBio.
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